quarta-feira, 5 de maio de 2010

Eu reclamo o direito de ser infeliz!

"- O mundo agora é estável. As pessoas são felizes, têm o que desejam e nunca desejam o que não podem ter. Sentem-se bem, estão em segurança; nunca adoecem; não têm medo da morte; vivem na ditosa ignorância da paixão e da velhice; não se acham sobrecarregadas de pais e mães; não têm esposas, nem filhos, nem amantes, por quem possam sofrer emoções violentas; são condicionadas de tal modo que praticamente não podem deixar de se portar como devem. E se, por acaso, alguma coisa andar mal, há a soma* que o senhor atira pela janela em nome da liberdade.
- Mas eu gosto dos inconvenientes. Eu não quero conforto. Quero Deus, quero a poesia, quero o perigo autêntico, quero a liberdade, quero a bondade. Quero o pecado.
- Em suma, o sr. reclama o direito de ser infeliz. Sem falar no direito de ficar velho, feio e doente; no direito de viver com a apreensão do que poderá acontecer amanhã.
- Eu reclamo todos!, respondeu.”

(Aldous Huxley – Admirável Mundo Novo)

*Soma - Droga usada para dissipar as contrariedades com o sistema.