segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Definitivo...

Neste Fim de semana li um texto do Carlos Drummond de Andrade que me despertou muito interesse e me deixou a pensar por longos instantes... aqui fica:

"Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos porquê? Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter
tido juntos e não tivemos,por todos os espectáculos, livros e silêncios que
gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos, não porque o nosso trabalho é desgastante e mal pago, mas por todas
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um
amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos, não porque a nossa mãe é impaciente connosco, mas por todos os
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela as nossas mais profundas
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos, não porque a nossa equipa perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos, não porque envelhecemos, mas porque o futuro é nos
confiscado, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Porque sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma
pessoa tão boa, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um
verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional..."

(Carlos Drummond de Andrade)